Início NACIONAIS Juli Hirata # 3 Brooks Range – Juli Hirata

# 3 Brooks Range – Juli Hirata

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“a cada quilometro rodado pro sul maiores são as chances da temperatura subir” – repeti isso pra mim mesma algumas vezes até chegar a Coldfoot, o meio da estrada.

 Chegando nas Brooks Range, o vento constante se acalmou e tudo que era quase plano começa a ficar muito montanhoso.

Depois de 233 kms a Tundra se levanta na sua frente em um mar de montanhas conhecido como Brooks Range. Ali no meio daquela imensa massa de rocha e neve estava o ponto mais alto da estrada: Atigun Pass a 1.422m de altitude.

 Essa é também a divisa da bacia. Todos os rios a partir dali correm pro Oceano Pacífico e não mais para o Oceano Ártico. Ali a estrada corta o penhasco e o vento te empurra pra onde ele quer. É uma área de avalanches também. E foi ali que eu senti o que eu chamei de “a mão”.

 Algumas semanas antes de voar pro Alasca, jantei com um querido amigo em Miami. Um cara que já viajou o mundo todo e o único que eu conhecia que já havia visto o Alasca.

 Quando o sol se abriu, um pouco de asfalto! Vocês não imaginam a minha felicidade!

Em dada hora do jantar, ele me disse: “O Alasca é o lugar pra onde se viaja para conhecer Deus.”

 “como assim?”

 “Acho que o Alasca é o lugar que Deus escolheu pra colocar tudo de mais único e bonito da criação. Se você não acredita em Deus, você precisa viajar pro Alasca!”

 Um pouco depois de Atigun Pass, na milha 237, tem a Chandalar Shelf, é a mais perigosa zona de avalanches com o rio Chandalar passando a direita na estrada. É um lugar majestosamente lindo. As sombras fazem desenhos nas montanhas que são como imensos dálmatas, manchados de branco da neve e nos afloramentos rochosos um marrom muito escuro, quase preto.

 Ali, o vento acalmou de repente. Eu conseguia ouvir o barulho dos eventuais caminhões passando no desfiladeiro a quilometros de distancia dali.

 Sem vento, na subida, com sol, a temperatura subiu e resolvi parar para tirar um pouco de blusas e derreter um pouco de água para beber. Encostei a bike numa rocha e levantei os braços para alongar as costas e uma força me empurrou pro chão, cai de lado, ajoelhada e olhei pra trás. Parecia que uma mão imensa e invisível tinha caído sobre mim. Fiquei ali no chão por uns segundos, confusa, tentando entender o que tinha sido aquele vento.

 Em seguida um vento começou a soprar mas logo passou…

 Chegando na cadeia de montanhas. O oleoduto fica bem perto da estrada.

Uma vez na Espanha, andando na rua tínhamos que deitar o corpo para conseguir nos movimentar contra o vento. Era um vendaval realmente forte e de uma força incrível mas nada foi como “a mão”. Rápida e forte.

Depois do primeiro episódio, mais duas rajadas de vento me empurraram pro chão com a bike e em uma delas, cai na estrada quando um caminhão estava passando.

Ele estava passando bem longe e bem devagar mas me viu cair. Parou uns metros na frente em um recuo da estrada, logo no início de uma descida. Perguntou se estava tudo bem, me ofereceu água (liquida!!!) e comentou que na estrada estavam falando de mim. Me avisou que eu deveria fazer as descidas desmontada da bike, alguns acidentes com motocicletas eram bem comuns na área por conta dos fortes ventos.

 Foi quando no rádio do caminhão outro caminhoneiro avisou de uma pequena avalanche algumas milhas a frente. Dai ele me ofereceu carona. Aceitei.

 Peguei uma carona de 30 milhas.

As vezes dava a impressão de estar no topo.

 E as vezes a impressão de que havia muito o que subir.

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