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Cicloaventureiro: Vitória qual foi a motivação e também o planejamento da sua Viagem?
A ideia da viagem não foi algo muito planejado, eu tava muito insatisfeita com a minha vida, com a faculdade, com o trabalho, onde eu ficava trancada em um escritório o dia todo.
A motivação
Quando comecei a escalar, se despertou em mim um espírito aventureiro.
Escalar já não era mais praticar um esporte, era um grito desesperado pelo equilíbrio, pela liberdade, afinal escalando você aprende a controlar sua mente, seus instintos, aprende a converter o medo em coragem, em determinação.
Comecei em uma onda de querer mudar minha vida, meu corpo, minha alma pediam mudanças mas eu não sabia por onde começar.
Fui apresentada a Ayahuasca e comecei a consagrar todo mês. Dali começaram a surgir mudanças profundas e cada vez mais eu fui liberando correntes que me atavam ao falso conforto e a coisas que não me faziam bem.
Da escalada para a Bike
Meu instrutor de escalada, começou a colocar pilha pra eu viajar de bike.
comecei a pesquisar sobre o assunto, conversei com mulheres que viajavam de bike.
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A minha grande inspiração foi a Vivi Benjamin, ela fez eu me dar conta de que era possível viajar e ser muito feliz na estrada.
O Luis, meu companheiro da época também estava muito insatisfeito e sempre dizia que iria fazer uma viagem longe de bike. Assim decidimos, juntos, que iriamos viajar.
Em 4 meses juntamos todas as tralhas que tínhamos e ajeitamos nossas companheiras de viagem, as bicicletas eram bem simples com peças baratas.
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Cicloaventureiro: Quando foi o inicio da viagem?
Eu sai pela primeira vez em janeiro de 2018 com uma bicicleta bem simples, uma sundown scandal e viajei 8 meses com o Luis meu companheiro da época.
Fizemos toda a 101 até o Chui e depois a costa do Uruguai, desviando Montevidéu e cruzando para Argentina por Paysandu.
Na Argentina quando entramos já começava o frio e decidimos ir para o norte. Pedalamos até Salta e fizemos voluntariado de um mês em Vaqueiros, cidade vizinha, em uma fazenda de cultivos orgânicos. Como não nos adaptamos para viajar juntos voltamos ao Brasil.
Na volta fizemos o trajeto de Corrientes e fomos até o paso de los libres pra entrar no Brasil.
Acabamos nos separando e eu fui trabalhar de guia e recepcionista do Parque da Pedra do Segredo em Caçapava onde eu conheci o Giga meu atual companheiro.
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Ele acompanhou minha viagem desde o inicio e eu acompanhava a viagem dele que começou em Agosto de 2018.
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Como ele estava voltando também eu convidei ele pra passar uma semana, depois eu voltei pra Porto e ele me convidou pra viajar com ele.
Uma nova viagem de bike!
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Começamos nossa jornada juntos em janeiro de 2019. Fizemos de Buenos Aires até Bahia Blanca e de lá até a província de Neuquén onde cruzamos para o Chile, pelo paso Cardenal Samoré.
Neste cruze da cordilheira na metade do outono conhecemos a neve e a pura chuva do sul chileno. Ficamos doentes, ele gripado e eu com pneumonia, mais uma vez com as bençãos da estrada conseguimos ajuda e de quebra um trabalho remunerado por quase 2 meses no sul do Chile, enquanto esperávamos o fim das chuvas invernais.
De lá voltamos para a Argentina pois o visto do Chile estava acabando e em Aluminé decidimos nos separar pois cada um queria ir para um lugar diferente.
Eu queria visitar um amigo em Concepcion, o Javier, um dos primeiros cicloviajantes latinoamericanos que encontrei no Brasil.
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Enquanto isso o Giga queria ir a Córdoba visitar os amigos brasileiros que iriam para lá. Eu planejei uma viagem solo fiz vários contatos no Chile e fui em direção a ele.
Na ultima cidade conheci o Newen um menino mapuche de espírito muito livre que decidiu me acompanhar. Ele foi comigo até Santiago onde eu decidi voltar pra Argentina e encontrar o Giga de novo.
Andei sozinha por apenas 3 dias, entre pedais e caronas. Mas já foi uma experiência muito libertadora e gratificante.
Estar ali só, independente, sendo eu mesma a dona das minhas decisões, dos meus passos. Depois disso voltamos ao Brasil para passar as festas de final de ano com a família e já não pudemos sair mais.
Escolhemos esperar a pandemia passar para poder sair.