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Juli Hirata em Sheep Mountain EUA

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Sheep Mountain Juli Hirata Cicloaventureiro
Gratidão é um sentimento de muitos níveis e intensidades.

Tenho experimentado todo tipo de gratidão, do mais simples e passageiro ao mais profundo, daquele que chega a transbordar.

Sheep Mountain, Yukon. As vezes a gratidão vem pela imensidão das montanhas.

 Um dia particularmente difícil, vento contra, topografia complicada, chuva e as placas informavam uma quilometragem que não batia nem com o odômetro do meu relógio, nem com as distâncias do mapa. Pior, tudo indicava que as distâncias eram maiores do que eu havia pensado.

Comecei a duvidar de tudo, do meu odômetro, do mapa, das referencias da estrada, de mim…

No final do dia, depois de 7:30 horas de pedal contra o vento e com uma garoa fina, eu havia completado a distância em que eu supostamente chegaria no meu ponto de dormida. Mas não! O lugar não chegava nunca e aquele vento não parava!

 Me propus: vencer aquela subida e dormir no topo! Não importava o que eu tinha planejado. Eu estava cansada e fome. O vento contrário suga as energias e o ânimo. Chega!

As vezes a gratidão vem ao conseguir identificar uma planta daqui. Aqui Hedysarum boreale  (nomes-populares em inglês: Northern Sweet-vetch ou Wild Sweet-pea), linda mas venenosa.

Em uma manhã no Yukon, perto de Destruction Bay…

Cheguei no topo. Era 20hs. Ainda na bike, bebi um golão de água e olhei ao redor, sondando onde poderia acampar.

Levantei a cabeça e olhei a paisagem. Do topo do morro admirei a descida na minha frente.

Já disse que amo descidas? Eu sou a louca das descidas! Eu grito, eu solto o freio, solto os cabelos, enfim. Pensei: eu posso terminar o dia com uma descida. Isso seria bom pra terminar esse dia chato.

As vezes a gratidão vem quando me sinto observada…

 … ou quando eu encontro saladinha na beira da estrada (na foto aspargos selvagem).

O sol apareceu entre as nuvens e pra mim foi o sinal. Nem pensei: fui! Desci, desci, desci. O vento ainda estava contra mas era descida e mesmo precisando pedalar era deliciosa!

 5km de descida, me lembrei da Serra da Graciosa, no Paraná. Que descida linda! Aquela mata, o cheiro, a umidade…

10km de descida, me lembrei da descida da rua da minha antiga casa, indo pro trabalho de manhã, aquela descida sempre fazia meu coração bater mais forte e eu sempre a terminava sorrindo. As vezes até tremendo um pouquinho por causa da adrenalina e da velocidade.

15km de descida, me lembrei da chegada na praia de Tambaba, na Paraíba, no dia do meu aniversário em um verão que pedalamos a costa do Nordeste. O ar quente, o cheiro do mar, as companhias…

E sem querer eu comecei a chorar. De emoção. Pura gratidão. Pelo dia difícil, pela fome, pela subida, pelo frio, pela bike… por estar ali.

18km de descida e a placa da cidade apareceu. Se não fosse a descida eu não teria chegado ali. Limpei as lágrimas do rosto. Ajeitei o cabelo de “louca da descida” e agradeci por estar onde, quando e como eu queria estar: no final de uma descida de 23 quilômetros.

Gratidão por ter lido!  

Texto: Juli Hirata ao portal Cicloaventureiro. 

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